Prostituição e drogas comprometem turismo (fortaleza-ce)


Prostituição e drogas comprometem turismo



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Casas repletas de mulheres são um atrativo para os proprietários, pois assim atraem mais estrangeiros
FOTOS: NATINHO RODRIGUES
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A demanda por homens em demasia, atrai mulheres para as boates, que por, sua vez, têm entrada liberada nas noitadas
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14/2/2011
Prostituição, tráfico de drogas e assaltos afetam os principais cartões-postais da região costeira do Estado do Ceará
É uma relação de mercado. Se há demanda, existe oferta. Com esse espírito, a prostituição tem não apenas se consolidado nos principais corredores turísticos de Fortaleza, como hoje está enraizada em praias como Canoa Quebrada e Jericoacoara, respectivamente, nos litorais Leste e Oeste do Ceará.

Como se beirasse à banalidade, a atividade tornou-se corriqueira, a ponto de seus protagonistas não se preocuparem se escandalizam ou não, quando levantam a roupa, mostram seios - falsos ou não - quer sejam prostitutas ou travestis, em pontos ao longo da orla de Fortaleza. Isso se dá não obstante as denúncias que vêm sendo feitas ao longo dos anos. O Diário do Nordeste percorreu um trajeto feito há quase uma década, mostrando como a agitação e a animação noturna, se confundem com livre consumo de drogas, a venda do corpo e a criminalidade quase sem inibições. Para mostrar que a situação não somente fugiu ao controle como ameaça a um agravamento da degradação, o jornal inicia, hoje, uma série de reportagens, abordando a prostituição e as drogas no litoral.

Famílias afugentadas
De um extremo a outro da costa cearense, há situações pontuais, é verdade, em algumas praias, como Jericoacoara, Canoa Quebrada e Praia de Iracema. Seus problemas não são iguais na exposição, mas implícitos na falta de policiamento, ausência dos conselhos tutelares, e de um serviço de inteligência que preste contas com a sociedade. Se ainda são os locais mais representativos para a diversão noturna, também podem ser responsabilizados pelo fato de as famílias deixarem ou estarem deixando de frequentar, afugentadas.

A atividade varia entre o velado e o ostensivo nas praias do Interior. No entanto, fica escancarada e sem pudores na Capital, onde não há melindres sequer de fazer calçadas de delegacias de polícias em pontos de prostitutas e travestis.

Virginia, uma mulher que sustenta filhos e uma mãe residentes em Messejana, diz que não é um nome falso. Ela tem 33 anos, foi assídua frequentadora da noite na Praia de Iracema, onde se prostituiu e ainda se prostitui. Mas a idade pesa com aquelas que atuam na função. Principalmente considerando a concorrência com outras garotas de programas, que sabem da demanda de estrangeiros e da avidez por sexo que permeia aquele bairro durante esse período do ano.

Muito mais tarde, revela que é mãe e explica porque não deve se descobrir totalmente: a juventude é o grande atrativo da prostituição. "Não gosto mais daqui. É muita droga, muita mulher bêbeda. Toda madrugada tem uma confusão", afirma. O programa custa R$ 100,00, que é R$ 50,00 a menos do que o cobrado pelas mais jovens.

Seus cabelos trançados e a calça jeans justa são como formas de auto afirmar-se juvenil e atraente. A exemplo das demais mulheres, ela não paga bebida na boate Café del Mar, que lhe oferece gratuitamente as bebidas, assim como não lhe é cobrada a entrada.

O idioma da noite
Também na Praia de Iracema, mais precisamente na Zip Boate, é explícita a exibição das mulheres em poses sensuais. As mais ousadas simulam uma entrega ao cano do pole dance.

Esse é o caso de Renata. Aqui, realmente, trata-se de um nome falso. Ela reside no Caça e Pesca, e vem junto com as amigas, quase todas as noites, para as boates da Praia de Iracema. Conta que nem sempre rende bons programas, mas, como numa loteria, pode fazer um programa muito lucrativo.

Virginia e Renata são exemplos de mulheres da noite, que preferem os viajantes estrangeiros, que "pagam sem reclamar". Segundo elas, os brasileiros sempre pedem um preço mais baixo. Virginia fala o italiano, o segundo idioma mais falado no moderno meretrício de Fortaleza, envolvendo a Praia de Iracema e Avenida Beira Mar.

AGITO NA NOITECasa libera bebida para as mulheres
"Para mim, não há lugar mais alegre como esse. Aqui me realizo", diz Renata, a personagem de nome fictício, mas real na noite da Praia de Iracema. Ela fala e ri, enquanto segura um copo de uísque onde o proprietário libera as bebidas sem limites para as mulheres.

Do momento em que adentra a boate, rapidamente, entra na animação e confere pelo espelho suas curvas e suas coreografias mais sensuais. Ela afirma que ganha atualmente mais do que quando trabalhava como babá e empregada doméstica. Isso, para ela, é motivo suficiente para não abandonar a prostituição. A noite na Praia de Iracema, há tempos, já não é mais curtida pelos seus saudosos bares e restaurantes como o Estoril, La Bohème, Cais Bar, La Tratoria e Geppos. Todos fechados, quebrados e alguns transformados em estacionamentos.

No lugar, reinam na noite as boates Café del Mar, Forró Mambo e Zip boate. Os pontos de prostituição, no entanto, vão mais além. Acontecem na calçada em frente à Delegacia de Proteção ao Turista.

A titular da Delegacia de Proteção ao Turista, Adriana Arruda, é uma das pessoas que admitem não ser a Praia de Iracema um lugar familiar: "Qual é a família que frequenta hoje esse local? Cadê aquele público que vinha há 15 anos? Eu, pelo menos, não trago a minha família. Isso ficou somente para os turistas desavisados ou aqueles que buscam noitadas de sexo.

"Sun, Sea and Sex" (Sol, Mar e Sexo) estampava o New York Times, em 1990, sobre o Ceará. De lá para cá, não tem sido diferente a reputação lá fora, assim como a prostituição associada às drogas baratas e fáceis de serem encontradas e mais o preço baixo dos pacotes internacionais são o suporte do turismo internacional no Ceará.

Não é de hoje que se denuncia o prostiturismo, que é a captação de visitantes ao Ceará, com fins de envolvimento com mulheres de programa. O que tem chamado a atenção das autoridades é o avanço da atividade no interior, em vista da fiscalização mais frouxa, mais facilidade de obtenção de drogas, não menos importante, o preço baixo para se deleitar e aproveitar os atrativos do litoral cearense.

Para estancar essa sangria e enfrentar a degradação de um turismo predador foi que se criou o Gabinete de Gestão Integrada (GGI), coordenado pela Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social, que, através do serviço de inteligência, vem pontuando os principais locais de aliciamento de homens e mulheres, inclusive crianças e adolescentes, com a finalidade de prostituição.

MARCUS PEIXOTOREPÓRTER



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